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Nota #6 - Artista e mãe

Me motivei a falar sobre isso aqui porque às vezes a gente esquece a importância que tem compartilhar a profunda dificuldade de conciliar algumas vivências particulares com a carreira. Como artista ainda vejo poucas falas sobre a trajetória do maternar e a dificuldade/impossibilidade de produzir, principalmente no primeiro ano de vida de um filho.


Já começo lembrando que mudar nunca é um evento único, acontece sempre num aglomerado de outros. Em 2016, eu tinha mudado de casa, numa nova cidade, tinha recém largado meu trabalho e iniciado os estudos dentro da cerâmica, além de lidar com a possibilidade de ser mãe de primeira viagem.


Durante a gestação ocupei parte do meu tempo entendendo os vários tipos de maternidade e escolhendo o que servia para mim e o que não. Li muito, entendi que existe um universo infinito de definições e fórmulas e, no fim, baseado nisso tudo escolhi a única versão possível de ser mãe: a minha. Seguir regras nunca foi a meu tipo e mesmo que fosse para seguir a criação considerada mais positiva ou sei lá o que, ainda seria uma teoria pré-definido por outro alguém que não eu.


Eu acho que mesmo com tanta informação a gente só tem uma vaga ideia da avalanche que vem pela frente. Me lembro de pensar sobre o tempo e que talvez fosse conseguir encaixar tudo nos intervalos de sono e outros colos. Mas a grande verdade é que não se trata só de horas livres e sim, de uma cabeça exausta. Para criar é preciso espaço mental, não só tempo e a maternidade é uma tonelada de emoções que encharcam você do dia para noite. Lutar contra isso é quase como tentar pegar um onda nos braços: impossível.


Ex Imir, 6/18. 2021. Acrílica sobre papel. 21 x 21cm

Ser mulher, ser artista (ou não) e ser mãe requer certa privação, recorta de você uma fatia sua e dói. E quando eu digo que dói é porque abre dentro do peito uma fenda que separa a você de ontem da você de hoje em diante. Um ritual silencioso de despedida de uma vida que se tornou outra.


Mas o tempo passa e as grandes tensões se acalmam dando lugar a necessidade de movimento. Seu filho cresce, aprende os primeiros passos da vida como indivíduo independente, compreende melhor relações de amor e cuidado, perigo e medo. E as suas mãos que andavam sempre entrelaçadas com as dele, vão aos poucos soltando como quem precisa agora reconhecer a própria pele. O tempo não dá pausas para você pensar no que fazer, ele só acontece.


Levei nove meses gestando meu bebê e aproximadamente dois anos para me reconectar completamente comigo mesma, com minha nova eu. E para falar a verdade, eu gosto muito dessa versão, gosto dos anos que passaram, das experiências que tive e das decisões que tomei. Isso tudo hoje estampa meus trabalhos.


E agora, seis anos depois, com a minha identidade de artista bem mais bem definida, embarco novamente nesse caminho desafiador da maternidade com a chegada do meu segundo filho. E sinceramente, não faço ideia de como vai ser. Minha caminhada agora começa de outro lugar, com outra cabeça e outros objetivos. A única certeza que tenho é da intensidade dos dias e da paciência para entender o tempo do tempo até que chegue a vez de resgatar novamente meu lugar em mim.






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