Nota #3: apresentações
- Aline Romero
- 17 de nov. de 2022
- 2 min de leitura
Ao longo dessas semanas, por acaso, conversei sobre esse tema com diferentes pessoas. Me dei conta como ele está inserido nos questionamentos de muitos de nós e, algumas vezes, coloca até em dúvidas ideias já bem estabelecidas. Não fui eu quem disse o que devia ser dito, mas ser artista requer de você, para além da composição plástica, a fala. Dentro dessa apresentação toda, que às vezes mais parece uma lista de tarefas pré-definida, você se vê de frente para um mercado, você se coloca à prova de capacidade, você questiona seus próprios métodos.

A primeira conversa foi sobre expectativas. Não, não as do artista e sim, as das outras pessoas. A história era mais ou menos assim: um artista já com uma certa trajetória, presente em eventos e galerias de arte, requisitado pelo seu estilo e bem estabelecido na sua poética e pesquisa de trabalho, se apresenta e naturalmente fala sobre sua produção. Em resposta, recebe pouco mais que um meio sorriso. Até aqui, tudo bem. Nem todas as pessoas precisam apreciar arte. Acontece que essa mesma pessoa, depois que tem oportunidade de conhecer a produção desse artista, muda completamente a visão sobre ele. Só vendo os trabalhos na frente dele é possível entender a seriedade daquela fala anterior.
Duas semanas depois, discuti sobre o que torna o trabalho de um artista importante: se é o lugar onde expõe, as competições que ganha ou a legitimidade com que se entrega para própria produção? E o ponto dessa discussão era que a arte é um agente de movimento social, mas antes de sair do ateliê, ela é um absoluto processo interno de quem cria e que sucesso talvez seja mais sobre honestidade, obstinação e a maneira com a qual você se coloca como artista, do que o texto das exposições.
Minha última conversa sobre o tema, foi uma intensa e extensa troca de áudios, revendo mais uns dez pontos de vista dessa história, observando as mesmas dúvidas e revirando os mesmos receios. No fim das contas, antes de mais nada, a maior recompensa precisa ser a finalização de um mergulho profundo e bem executado, da certeza da grandiosidade desse resultado, independente das conquistas futuras. O ponto é que nem todo quadro pintado ou escultura construída vai servir para estar no lugar que se imagina. Alguns trabalhos realmente não são tão bons, mas absolutamente todos eles cumprem um papel fundamental de pavimentação na poética bem estruturada de cada artista.
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